8 de junho de 2009

A ameaça do bicho papão começou


Ainda mal acabaram as eleições para o Parlamento Europeu, já elementos de vários partidos políticos começaram a meter-nos medo com o BICHO PAPÃO ou seja a ameaça da futura INGOVERNABILIDADE no caso de não haver maioria absoluta de um só partido.

Portugal está dividido em dois grupos, o maior; onde estão os cidadãos anónimos como eu, o menor; o grupo dominante que não é homogénio e sendo a elite, podemos dividi-lo em tantas unidades quantas quisermos, estejam eles no governo ou na oposição, sejam eles os donos do poder económico ou qualquer outro grupo que nos queira controlar a nós (o grupo dominado).

A massa anónima já aprendeu a ver a panelinha e a dinâmica do grupo dominante, independentemente das posições e oposições que tomem. Em 33 anos os Portugueses podem seguir vários elementos que vão daqui para ali, mas que nunca saiem do grupo dominante, andam sempre a bailar e o pagode a ver.

O que atrapalha o cidadão anónimo é não saber o que fazer, uma maioria, como foi visto nestas eleições achando que são todos iguais, opta por não votar em ninguém, outros com receio de mudanças e não vá tudo ficar pior, votam nos do costume, outros sem filiação partidária mas em desespero como eu votam Bloco de Esquerda, outros até podem votar em determinado partido na mira de obter dele algumas benesses.

Primeiro, preciso justificar o meu voto no Bloco de Esquerda:
-Porque falam e perguntam no Parlamento, aquilo que muitas vezes eu gostaria de dizer e perguntar, e, como resposta, obtiveram aqueles sorrisinhos de desdém do nosso Primeiro Ministro a fugir descaradamente de assuntos importantes, esquecendo-se que quando está a responder a um deputado no Parlamento, os PORTUGUESES ANÓNIMOS também estão a ouvir.

-Quando outros partidos políticos falam do Bloco de Esquerda(como eu já ouvi), como um saco de gatos, eu espero que enquanto não se tiverem vendido ao poder económico, sejam um saco de cães de guarda, que rosnem o suficiente e bem alto contra tudo o que cheirar a esturro e vigarice.

-Aonde é que eu poderia votar? No PSD? Já o conheço de gingeira. No CDS ? Muito menos, está demasiado à direita.Na CDU? Está demasiado à esquerda.Nos pequenos partidos sem hipótese de representação na Assembleia?

Não votar, era impossível para mim, não consigo viver amordaçada, ainda me lembro, do antes do 25 de Abril, quando eu era criança, o meu avô em voz baixa avisava: "Olha que fora de casa não se fala em política"e eu conseguia sentir o receio e o perigo de tal ousadia.
Hoje posso não poder fazer muito com o meu voto, mas pelo menos, não fiquei de rabinho sentado a ver a marcha passar, que ainda não chegámos aos Santos Populares.

Quando eu era criança, ainda era permitido comprar amendoins para dar aos macacos no Jardim Zoológico, agora é proibido, mas no Parlamento o governo Socialista, no fim de cada debate vazio de conteúdo, aprendeu a atirar uns amendoins aqui ao pessoal, mas nós não somos macacos, não é por aí que ficamos aos saltinhos de contentamento.

Quanto ao Vital Moreira se responsabilizar pela desgraça do Partido Socialista, não me façam rir, dizer que ele foi mal escolhido, pelo contrário, ele foi escolhido a dedo, a maioria dos socialistas já sabia que o partido ia levar nas orelhas, assim sendo, quem poderiam escolher para queimar e que não fizesse muita mossa?
Em contrapartida, mesmo que Vital Moreira soubesse que era carne para canhão, tinha a certeza de ganhar o tachinho para o Parlamento Europeu.

Aquela história do Eng. Sócrates contratar a equipa de Obama para se preparar para as Eleições Legislativas, não sei quem é que ele agora tem, mas não viram ontem a substituição da máscara ? Tão bonzinho, tão educado, tão circunspecto, tão macio, tão... tão...cativante?

Neste momento só me lembro de Pierre Bourdieu, quando nos explica o jogo subtil do poder e do poder de pensar, sobre os que não sabem, mais ainda, a manutenção da cultura dominante sobre os dominados, exercendo um efeito de mascaramento entre o arbitrário e o natural.
Se eles conseguirem passar a relação arbitrária para uma relação natural, têm o prolongamento assegurado do domínio.
Simplificando a questão, se eles nos convencerem que o natural é uma maioria absoluta para um partido poder governar, seja PSD ou PS, estão ambos a prolongar e assegurar o seu domínio.
Vão contando a partir de hoje, quantas vezes eles vão falar do papão da ingovernabilidade.

Não faço parte da elite e sei que temos de seguir maioritariamente pelas regras da União Europeia, mas ficava mais descansada, se por cá, houver um partido que ainda não pertença ao poder económico, que fale sempre a verdade( nua e crua) dos factos, que nos alerte , nos mostre a outra face da mesma moeda, que esteja atento às facadinhas nas costas que nos queiram dar e, enquanto cumprir esses objectivos, mesmo sem nunca governar, irá sempre merecer o meu voto de confiança.

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