16 de fevereiro de 2012

Nunca pensei viver num tempo que me recorda as histórias do meu avô... espero que se fiquem... pela sopa

Apesar de ficar conhecida como sopa do Sidónio, ela foi apenas uma adaptação das "Cozinhas Económicas" criadas no tempo do rei D.Carlos pela duquesa de Palmela e pela marquesa de Rio Maior.
Sidónio Pais entrou para a Escola do Exército com 16 anos, onde tirou primeiro o curso de Artilharia. Em 1895, já tenente, frequenta a Faculdade de Matemática, em Coimbra, onde será catedrático da cadeira de Cálculo Diferencial e Integral. Logo após o 5 de Outubro é senador e fez parte do ministério de Manuel de Arriaga como ministro do Fomento e depois como Ministro das Finanças.
Com grande popularidade popular (os portugueses têm um gosto muito peculiar) Sidónio Pais estará bem descrito pelo historiador António Reis ao escrever que "o sidonismo foi uma mescla de poder pessoal, repressão, perseguição política, confusão administrativa e algumas medidas demagógicas, com o duplo objectivo: recuo e progressiva anulação do partidarismo em Portugal, alicerçada na mítica do chefe, em antecipação das experiências fascistas que irromperam na Europa nos anos 20"
Depois do Presidente Bernardino Machado ser destituído, com a criação da Junta Revolucionária, ficaram a seu cargo 3 pastas: chefe do governo, dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. Quando chegou a Presidente da República declarando-se "chefe de todos os portugueses"legitimado pela eleição por sufrágio universal, porque nessa altura os portugueses tinham muita esperança que o País se "endireitasse" sob o seu domínio, a verdade é que se entrou, imediatamente, na época das proibições e das suspensões, como do jornal "Mundo" dos partidários de Afonso Costa, dos jornais monárquicos, republicanos "A República", a "Luta" de Brito Camacho, dos jornais socialistas, católicos, anarquistas ou independentes. Por fim, o seu próprio Partido, os "Unionistas", em Congresso, acabaram por romper com o seu antigo membro.
Repetia que"tudo ia ficar melhor"mas o que "melhorou" foi a pobreza e o desemprego, a razão para incrementar, ainda mais, a que ficou conhecida pela "sopa do sidónio".
Mais tarde, reatou as conversações com o Vaticano, fez-se protector da Igreja Católica, revendo a Lei da Separação da Igreja e do Estado que fora uma das maiores conquistas do Governo Provisório de 1911 e, a Igreja Católica passou a ter estabelecimentos de assistência em Portugal e conseguiu granjear ainda mais popularidade.
Afinal o "endireitar" virou Ditadura, pobreza e desemprego... hoje quando ouvi aquela dos 50 milhões para a sopa... fiquei preocupada, mais a mais, quando pela Europa "já cheira" e muito, a mais "experiências fascistas".

24 comentários:

  1. Isa
    Aqui por estas bandas o nome era "sopa dos pobres". Escrevi há uns tempos no "Largo" um post a esse propósito a que dei o titulo de "más memórias".
    Apesar de nunca lá ter ido, lembro-me perfeitamente e o edifício onde funcionava ainda lá está.
    Começo a não ser capaz de digerir estas "sopas".
    Abraço
    Rodrigo

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  2. folha seca

    Podem-lhe chamar o que quiserem, mas é sempre mau sinal (já desistiram de outras medidas)... a única coisa que eu sei, é ser possível a repetição da História... às vezes até pode vir disfarçada mas acaba por ser, sempre,a mesma "pescadinha de rabo na boca" e quem se lixa é sempre o "mexilhão" ;)

    Bjos

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  3. A miséria está a chaegar a um extremo que o Governo teve de ceder e aumentar em 40 milhões de euros o apoio ás Misericordias para a luta contra a fome...

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  4. polittikus

    Rondamos os 10 milhões de portugueses, mas já nem sei muito bem, com tantos que estão a abandonar o país, e esses milhões de euros que, segundo ouvi, são mais de 40 milhões, portanto, basta fazer a média por português, não teriam melhor uso na aplicação de outras medidas?As pessoas querem emprego e não esmolas em sopa.
    Quando me ponho a fazer contas, dá-me sempre a sensação que até dá jeito haver pobres para lhes dar a sopa, para outros poderem comer caviar :D
    É como aqueles livritos com o programa do governo que nos ficaram a 120€ cada um... por mero acaso, feitos numa tipografia "de amigos da mesma cor"... mas que não ficaram nada a preço de amigo e de preços de tipografias, até percebo um bocadinho :D
    É preciso estar atento porque de boas intensões... está o Inferno cheio :D

    Bjos

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  5. E se fechassem as portas à imigração durante a crise?

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  6. Catarina

    Não é preciso fechar nada, muitos já se estão a ir embora... isso é um pouco ilusão, pensar que são eles, os que nos tiram os empregos... essa ideia acaba, muitas vezes, em violência, pela simples vontade de querer pôr, em alguém, as culpas da desgraça económica.
    Preocupa-me mais, quando estamos a vender o resto de Portugal, perdendo a opção de fazer as nossas futuras escolhas.
    Se pensares bem, imigrantes têm sido os portugueses que se espalharam por muitos países do mundo.Será um bom lema, não fazer aos outros aquilo que não queremos que nos façam a nós :D

    Bjos

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  7. Ainda não tinha pensado a fundo sobre o assunto. Mas este texto foi bem esclarecedor.

    Se alguém tinha alguma duvida, o fascismo está ai!

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  8. Daniel

    Apesar de História não ter sido a minha disciplina preferida suponho que, no mínimo, ensina que certas "receitas" podem dar o mesmo resultado... como diz o povo e com razão... Cuidado e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém... como tu és vegetariano, podes aproveitar a primeira parte lol (não resisti :D)

    Bjos

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  9. A história repete-se.

    E quanto à piada, sei aguentar, não sou como o Herman José... ;)

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  10. É muito grave o que se está a passar! =(

    Abraço

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  11. Rosa dos Ventos

    Podes crer, isto vai ser recuar ao tempo da miséria, onde só alguns podiam comer, estudar ou ir ao médico.
    Nota-se que dentro do PSD nem todos estão a conseguir engolir este extremismo de, Coelho, Relvas & Cª.

    Bjos

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  12. Nem doce, nem travessura
    Alerta, e bem, para tiques de ditadura

    (Um texto que só me não faz inveja porque não sou invejoso. Boa malha! )

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  13. Isa,
    Também é desse tempo a criação do Instituto de Medicina Legal, tendo sido ele próprio um dos primeiros a ser analisado...
    Estávamos em 1916-1918, ou seja há mais de 100 anos. Nessa altura havia homens intelectualmente honestos, mesmo que as suas convicções fossem diferentes das que consideramos correctas. O sidonismo marcou o fim da primeira republica, período de sonho romântico de liberdade que muitos consideram como semelhante ao pós 25 de Abril. Não estou nesse grupo, apesar da quase equivalênica das situações, em muitos aspectos. Enfim isto para dizer que estes nossos politicos de hoje estão longe de qualquer um desses, pró-sidónio ou anti-sidónio. Falta-lhes altruismo, nobreza de caracter e, sobretudo, desapego pelos bens materiais.

    E a nós, penso, falta-nos vontade de lutar, seja com que armas for.

    Esta da sopa dos pobres que ontem foi pomposamente anunciada, é mais um exemplo da falta de ideias, da caridadezinha balofa, da ideia que estes meninos que viveram sempre à custa do paizinho, da cunha e do favor têm da vida. Tenho vergonha não do meu país, mas daquilo em que transformou.

    Desculpa o desabafo...

    Bjs

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  14. Agora vamos ter a sopa do Possidónio. E este Estado Novo chamar-se-á Estado Reciclado.

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  15. Gostaria de pensar que tudo se "endireitasse"...mas parece-me que vamos a passos largos para uma ditadura.... (que diabo)

    Agradeço-te, de coração teu carinho em teus comentários. Obrigada ...se bem que nunca terei palavras suficientes para te mostrar minha gratidão. Beijo

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  16. Rogério Pereira

    Só me faltou uma advertência... quanto ao povo português e o Sidónio Pais... sobreviveu ao 1º atentado mas não ao 2º ;) Somos muito molinhos... até ao dia que os fusíveis fundem... basta ver aquele de Beja... quando rebentam... rebentam

    Bjos

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  17. Tio do Algarve

    São sempre benvindos os desabafos... confundidos, por esses meninos mimados, com pieguices. Eles sim, é que foram criados na época do esbanjamento por paizinhos bem instalados, com belos tachos ou mesmo roubos legalizados, à conta dos nossos impostos.
    Adoro o meu país e até me vêm as lágrimas aos olhos quando vejo ao que isto chegou... e nem é vergonha... é mesmo dor.

    Bjos

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  18. Carlos Barbosa de Oliveira

    Tomara que reciclassem alguma coisa, isto é o Estado da bagunçada, dos sem vergonha e dos pseudo-sabichões.

    Bjos

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  19. BlueShell

    Quando se deu o 25 de Abril eu tinha 16 anos já com muita consciência de que se vivia numa Ditadura mas sem lhe chamar isso, os sacrifícios de esticar dinheiro que não havia e com pais e avô a duplicar trabalhos e horas extraordinárias... e os conselhos do meu avô... o que se conversava dentro de casa não se podia repetir lá fora...
    Os mais novos, nascidos no pós Abril não fazem a mínima ideia do que é viver numa Ditadura... e é disso que eu tenho receio... quem não sabe é como quem não vê...
    ...e não há nada para agradecer, apenas se entende melhor quando se percorrem os mesmos caminhos.

    Bjos

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  20. Isa,
    Sim também me parece que é mais dor do que vergonha...
    Está excelente essa nota do Carlos Barbosa de Oliveira. Realmente é o que estes são: Possidónios e cheios de ideias recicladas (e acho que vou escrever sobre este tema).
    Bjs

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  21. Tio do Algarve

    ...é escrever que mais cedo ou mais tarde... não falho a leitura :D

    Bjos

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  22. Demos tempo ao tempo. Nós ainda somos daqueles que temos ainda tudo, até Internet. Mas há quem já não tenho muito e esteja vivendo ou sobrevivendo na miséria. E cada vez mais me convenço que alguém lá muito muito no alto está a ganhar com a miséria dos outros. O lado bom e o lado muito mau dos seres humanos.
    Ricardo

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  23. Ricardo Santos

    A tecnologia avançou tanto... mas o ser humano... cada vez deixa mais a desejar... o desejo desenfreado por poder e aproveitar-se dos mais fracos... não mostra evolução... bem pelo contrário... não sei para que nos serve a inteligência.

    Bjos

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