Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras
Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada
De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse
Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
Isa
ResponderEliminarAcabo de ler um poema e um "pensamento" que me deixaram assim pró "embuxado" não consigo dizer mais do que sublinhar a "furia e a raiva" da Sophia.
Abraço
Rodrigo
A escrita de Sophia é soberba.
ResponderEliminarfolha seca
ResponderEliminar...pois a mim tirou-me a dúvida sobre o que seria esta sensação vinda da parte mais negra da minha alma que lentamente se vem espalhando como se fosse um veneno e que, pouco a pouco, me vai asfixiando e consumindo todos os dias... penso que só me falta começar a ranger os dentes... :D
Bjos
Observador
ResponderEliminarEu sou pouco dada a poesia... mas esta foi irresistível... talvez por ser lida no momento certo... fez clic... ao conseguir uma perfeita empatia e sintonia com o que ando a sentir.
Bjos
Que quem lê Sophia
ResponderEliminarjá ama ou fica a amar a poesia
Acabará por a divulgar ou dizer
mesmo que se sinta, nos dentes,
o tal ranger...
A raiva é uma forma de estar viva
e, por acaso, bem necessária e expressiva
Rogério Pereira
ResponderEliminarFúria e raiva... não havia necessidade de existirem... afinal para que serve tanta inteligência?
Para quê sermos racionais se nem conseguimos, como espécie, viver em paz.
Para quê querer chegar a outros Planetas se nem conseguimos partilhar este e acabamos, sempre, por destruir mais do que construir.
Para quê desejar conhecer seres de outros Planetas se nem nos dignamos a conhecer quem vive mesmo ao nosso lado.
Para quê esta fúria de ter mais do que se precisa... mais do que se consegue gastar em meia dúzia de gerações e deixar outros sem qualquer hipótese de sobreviver...
E espero ardentemente que nunca consigam descobrir um elixir para prolongar a vida porque se o poder embebeda tanta gente num tão curto espaço de tempo, imagino o Inferno e o Caos desse poder prolongado.
Bjos
"Essa coisa" estranha, entranha-se... e o resto é prosa.
ResponderEliminar:)
Somos assim, uns nem assim nem assado, outros porém são soberbos a julgarem-se soberanos daqueles que neles delegaram o trabalho (que devia ser consciencioso e humano) de gerir a coisa pública, logo de todos nós, os outros, os que não detêm diretamente o poder de mandar que se faça a vontade dos que se julgam detentores da força absoluta duma maioria ocasional (irracional, talvez), que em menos de um ano se transformaram em pavões a cantar, noite dentro, sem nos deixar em paz...
ResponderEliminarAo ritmo dos anos vou-me sintonizando mais e mais com o ritmo poético da palavra...
De qualquer modo, na defesa da sua posição:
"Vai-te Poesia!
Não transformes o mundo
descarnado e terrível
num céu de esquecer
com mendigos de nuvens
famintos de estrelas
e feridas a cheirarem a cravos
- enquanto os outros, os de carne verdadeira,
uivam em vão
a sua fome de cadelas
e de pão.
...
não quero cantar.
Quero gritar!"
José Gomes Ferreira
Bjos
Sophia é daquelas que está sempre presente na minha lista de preferências poéticas!
ResponderEliminarPara mim não é estranho embora ultimamente ande mais para o prosaico! :-))
Pela palavra se faz e se desfaz muita coisa!
Abraço
Rui Pascoal
ResponderEliminar... e não tenho dúvida nenhuma... sou mais de prosa :D
Bjos
Este Governo inclusivamete perverte o sentido das palavras: é um jogo sem limites, que passa até por lapsos.
ResponderEliminarAcerca das galinhas e dos ovos: estou em transe!
Quer dizer, as galinhas t~em que ter espaço mas Passos e Portas estão transformando instituiçõe s em depósitos de encafuamente de seres humanos.
É a total inversão de valores!!!!
Fica bem.
as-nunes
ResponderEliminarUma coisa é certa, a Portugal não faltam poetas :t
Eu sou uma verdadeira desgraça só rimo... por mero acaso :D
Bjos
Rosa dos Ventos
ResponderEliminarO maior problema é que, presentemente, as palavras que, mais vezes, fazem e desfazem... são proferidas secretamente... conluios para melhor nos enterrarem a faca pelas costas... seja cá ou nos corredores de Bruxelas... quando chega ao debate público e à votação... é só teatro para parolos ouvirem :-*
Bjos
São
ResponderEliminarNa mesma semana da notícia das galinhas, o Mota que andava na lambreta mas que agora anda com o rabinho refastelado num pópó caro :D aprovou que nos lares de idosos podem estar mais apertadinhos, aí, aposto que U.E. não se importa, já para não falar no aumento das turmas dos alunos, não haverá nada a acrescentar senão uns parabéns por reduzir o défice...
O meu senso comum tem uma ordem de prioridades, crianças, velhos,... no fim as galinhas... perdão... os coelhos lol
Bjos
Um poema contra a demagogia e contra os políticos. Gostei mesmo. ;)
ResponderEliminaràs vezes as palavras saem caras, outras vezes dão dinheiro. É inefável.
ResponderEliminarSr.Matumbo
ResponderEliminar...só faltou falar na República das... Bananas lol
Bjos
Daniel
ResponderEliminar...e já sabemos a quem saiem, sempre, caras... :-*
Bjos
Tem toda a razão
ResponderEliminarMas só me ocorre
voltar ao poema de Sophia
"Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras"
(...)
"Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra"
Olá, Isa!
ResponderEliminarOriginalmente, o recado tinha destinatário diferente; hoje serve lindamente como carapuça ao coelho. Que infelizmente para nós a natureza dotou de fala.O sujeito é um charlatão consumado, sem vergonha nem pudor, que nem já se dá conta de o ser de tanto já estar habituado.
A emenda foi pior que o soneto; este é ainda pior que o outro; mais valia não ter feito nada...!
Beijinhos.
Vitor
Todas as invenções podem ser usadas para o bem... e para o mal. Nem a invenção do alfabeto escapou aos aproveitadores. :(
ResponderEliminarRogério Pereira
ResponderEliminar... mas mesmo com fúria e raiva acusar o demagogo... dá-me sempre aquela sensação que não basta, parece faltar mais qualquer coisa... que o faça engolir as palavras, que o obrigue a parar de vez, porque ele faz ouvidos moucos às acusações, sejam elas ditas de forma calma ou com fúria e raiva... :-*
vitorchuvashortstories
ResponderEliminarClaro que os viveiros dos charlatães foram aumentando com o tempo, estamos na época dos que lá foram criados desde o berço, ainda usavam fraldas... não viveram a vida real, nem provaram nada das suas competências, apenas foram preparados, ensinados e treinados na palavra... "a caçar patos" :D
Bjos
L.O.L.
ResponderEliminarTens razão... nada escapa e o maior problema é que esses aproveitadores, cada dia que passa, são em maior número :(
Bjos
Com franqueza, pensei que tinhas dado por ti a escrever poesia. Coisa estranha, mas não impossível.
ResponderEliminarConseguiste foi encontrar um poema onde a raiva é a tua/nossa raiva e sentiste-o/sentimo-lo.
Beijo
Mas olha que é um poema que assenta que nem uma luva no espírito deste blogue ... :)
ResponderEliminarA Sophia tem esse dom de nos despertar recônditos apetites, Isa. E a escolha foi boa.
ResponderEliminarTambém está escalada para as Vozes de Abril lá no CR, mas só mais lá para diante...
Belo poema - ou não fosse da nossa melhor poeta da atualidade. Mas ao ler o título do texto de hoje ainda pensei que o poema fosse teu.
ResponderEliminaracácia rubra
ResponderEliminar... parece tipo íman entre raivas... o poema encontrou-me a mim :D
Bjos
luisa
ResponderEliminar...digamos que, neste momento, parece um "casaco" que é mesmo à minha medida :D
Bjos
Carlos Barbosa de oliveira
ResponderEliminar... foi quase como encontrar uma amiga ao virar da esquina que entende bem o meu estado de espírito :D
Bjos
Graça Sampaio
ResponderEliminarJá me contento em rabiscar prosa... quanto a poesia... é muita areia para a minha camioneta... só rimo por mero acaso lol
Bjos
O título fez-me pensar que a tua musa se tinha manifestado com todo o seu ardor! : )
ResponderEliminarBoa escolha. Gosto de Sophia e dos vários livros que escreveu para os mais jovens.