19 de abril de 2012

Coisa estranha... muito estranha... hoje deu-me para a poesia ;)

Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada

De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse

Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

33 comentários:

  1. Isa
    Acabo de ler um poema e um "pensamento" que me deixaram assim pró "embuxado" não consigo dizer mais do que sublinhar a "furia e a raiva" da Sophia.
    Abraço
    Rodrigo

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  2. A escrita de Sophia é soberba.

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  3. folha seca

    ...pois a mim tirou-me a dúvida sobre o que seria esta sensação vinda da parte mais negra da minha alma que lentamente se vem espalhando como se fosse um veneno e que, pouco a pouco, me vai asfixiando e consumindo todos os dias... penso que só me falta começar a ranger os dentes... :D

    Bjos

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  4. Observador

    Eu sou pouco dada a poesia... mas esta foi irresistível... talvez por ser lida no momento certo... fez clic... ao conseguir uma perfeita empatia e sintonia com o que ando a sentir.

    Bjos

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  5. Que quem lê Sophia
    já ama ou fica a amar a poesia
    Acabará por a divulgar ou dizer
    mesmo que se sinta, nos dentes,
    o tal ranger...
    A raiva é uma forma de estar viva
    e, por acaso, bem necessária e expressiva

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  6. Rogério Pereira

    Fúria e raiva... não havia necessidade de existirem... afinal para que serve tanta inteligência?
    Para quê sermos racionais se nem conseguimos, como espécie, viver em paz.
    Para quê querer chegar a outros Planetas se nem conseguimos partilhar este e acabamos, sempre, por destruir mais do que construir.
    Para quê desejar conhecer seres de outros Planetas se nem nos dignamos a conhecer quem vive mesmo ao nosso lado.
    Para quê esta fúria de ter mais do que se precisa... mais do que se consegue gastar em meia dúzia de gerações e deixar outros sem qualquer hipótese de sobreviver...
    E espero ardentemente que nunca consigam descobrir um elixir para prolongar a vida porque se o poder embebeda tanta gente num tão curto espaço de tempo, imagino o Inferno e o Caos desse poder prolongado.

    Bjos

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  7. "Essa coisa" estranha, entranha-se... e o resto é prosa.
    :)

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  8. Somos assim, uns nem assim nem assado, outros porém são soberbos a julgarem-se soberanos daqueles que neles delegaram o trabalho (que devia ser consciencioso e humano) de gerir a coisa pública, logo de todos nós, os outros, os que não detêm diretamente o poder de mandar que se faça a vontade dos que se julgam detentores da força absoluta duma maioria ocasional (irracional, talvez), que em menos de um ano se transformaram em pavões a cantar, noite dentro, sem nos deixar em paz...

    Ao ritmo dos anos vou-me sintonizando mais e mais com o ritmo poético da palavra...

    De qualquer modo, na defesa da sua posição:
    "Vai-te Poesia!

    Não transformes o mundo
    descarnado e terrível
    num céu de esquecer
    com mendigos de nuvens
    famintos de estrelas
    e feridas a cheirarem a cravos
    - enquanto os outros, os de carne verdadeira,
    uivam em vão
    a sua fome de cadelas
    e de pão.

    ...
    não quero cantar.
    Quero gritar!"

    José Gomes Ferreira

    Bjos

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  9. Sophia é daquelas que está sempre presente na minha lista de preferências poéticas!
    Para mim não é estranho embora ultimamente ande mais para o prosaico! :-))
    Pela palavra se faz e se desfaz muita coisa!

    Abraço

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  10. Rui Pascoal

    ... e não tenho dúvida nenhuma... sou mais de prosa :D

    Bjos

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  11. Este Governo inclusivamete perverte o sentido das palavras: é um jogo sem limites, que passa até por lapsos.

    Acerca das galinhas e dos ovos: estou em transe!
    Quer dizer, as galinhas t~em que ter espaço mas Passos e Portas estão transformando instituiçõe s em depósitos de encafuamente de seres humanos.

    É a total inversão de valores!!!!

    Fica bem.

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  12. as-nunes

    Uma coisa é certa, a Portugal não faltam poetas :t
    Eu sou uma verdadeira desgraça só rimo... por mero acaso :D

    Bjos

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  13. Rosa dos Ventos

    O maior problema é que, presentemente, as palavras que, mais vezes, fazem e desfazem... são proferidas secretamente... conluios para melhor nos enterrarem a faca pelas costas... seja cá ou nos corredores de Bruxelas... quando chega ao debate público e à votação... é só teatro para parolos ouvirem :-*

    Bjos

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  14. São

    Na mesma semana da notícia das galinhas, o Mota que andava na lambreta mas que agora anda com o rabinho refastelado num pópó caro :D aprovou que nos lares de idosos podem estar mais apertadinhos, aí, aposto que U.E. não se importa, já para não falar no aumento das turmas dos alunos, não haverá nada a acrescentar senão uns parabéns por reduzir o défice...
    O meu senso comum tem uma ordem de prioridades, crianças, velhos,... no fim as galinhas... perdão... os coelhos lol

    Bjos

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  15. Um poema contra a demagogia e contra os políticos. Gostei mesmo. ;)

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  16. às vezes as palavras saem caras, outras vezes dão dinheiro. É inefável.

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  17. Sr.Matumbo

    ...só faltou falar na República das... Bananas lol

    Bjos

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  18. Daniel

    ...e já sabemos a quem saiem, sempre, caras... :-*

    Bjos

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  19. Tem toda a razão
    Mas só me ocorre
    voltar ao poema de Sophia

    "Com fúria e raiva acuso o demagogo
    E o seu capitalismo das palavras"
    (...)
    "Com fúria e raiva acuso o demagogo
    Que se promove à sombra da palavra"

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  20. Olá, Isa!

    Originalmente, o recado tinha destinatário diferente; hoje serve lindamente como carapuça ao coelho. Que infelizmente para nós a natureza dotou de fala.O sujeito é um charlatão consumado, sem vergonha nem pudor, que nem já se dá conta de o ser de tanto já estar habituado.
    A emenda foi pior que o soneto; este é ainda pior que o outro; mais valia não ter feito nada...!

    Beijinhos.
    Vitor

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  21. Todas as invenções podem ser usadas para o bem... e para o mal. Nem a invenção do alfabeto escapou aos aproveitadores. :(

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  22. Rogério Pereira

    ... mas mesmo com fúria e raiva acusar o demagogo... dá-me sempre aquela sensação que não basta, parece faltar mais qualquer coisa... que o faça engolir as palavras, que o obrigue a parar de vez, porque ele faz ouvidos moucos às acusações, sejam elas ditas de forma calma ou com fúria e raiva... :-*

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  23. vitorchuvashortstories

    Claro que os viveiros dos charlatães foram aumentando com o tempo, estamos na época dos que lá foram criados desde o berço, ainda usavam fraldas... não viveram a vida real, nem provaram nada das suas competências, apenas foram preparados, ensinados e treinados na palavra... "a caçar patos" :D

    Bjos

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  24. L.O.L.

    Tens razão... nada escapa e o maior problema é que esses aproveitadores, cada dia que passa, são em maior número :(

    Bjos

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  25. Com franqueza, pensei que tinhas dado por ti a escrever poesia. Coisa estranha, mas não impossível.
    Conseguiste foi encontrar um poema onde a raiva é a tua/nossa raiva e sentiste-o/sentimo-lo.

    Beijo

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  26. Mas olha que é um poema que assenta que nem uma luva no espírito deste blogue ... :)

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  27. A Sophia tem esse dom de nos despertar recônditos apetites, Isa. E a escolha foi boa.
    Também está escalada para as Vozes de Abril lá no CR, mas só mais lá para diante...

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  28. Belo poema - ou não fosse da nossa melhor poeta da atualidade. Mas ao ler o título do texto de hoje ainda pensei que o poema fosse teu.

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  29. acácia rubra

    ... parece tipo íman entre raivas... o poema encontrou-me a mim :D

    Bjos

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  30. luisa

    ...digamos que, neste momento, parece um "casaco" que é mesmo à minha medida :D

    Bjos

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  31. Carlos Barbosa de oliveira

    ... foi quase como encontrar uma amiga ao virar da esquina que entende bem o meu estado de espírito :D

    Bjos

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  32. Graça Sampaio

    Já me contento em rabiscar prosa... quanto a poesia... é muita areia para a minha camioneta... só rimo por mero acaso lol

    Bjos

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  33. O título fez-me pensar que a tua musa se tinha manifestado com todo o seu ardor! : )
    Boa escolha. Gosto de Sophia e dos vários livros que escreveu para os mais jovens.

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